domingo, 21 de dezembro de 2008

O Banner da SET na Avenida Manoel Dias






Na garrafa está escrito: "Bebida alcoólica"
"É para não confundir com uma garrafa de tubaína!" Segundo Glauber.


Fotos tiradas com um celular, a qualidade não é boa mas, dá para visualizar a ideia da propaganda e o local onde foi colocada.


sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Primeiros Socorros

– Esses rapazes de hoje não tem amor à vida – resmungava um senhor lá pros seus 60 ou 70 anos descendo a rua com o corpo envergado e um cigarro entre os dedos.
– Não dão valor à vida – continuava a falar enquanto seguia para a esquina onde já se aglomerava uma multidão de curiosos.
– Eu não tenho pena deles, não. Tenho pena é do pai e da mãe que estão em casa dormindo e vão acordar com um telefonema! – exclamava uma mulher que voltava do local com uma criança no colo, indignada com o acontecimento.
No local os curiosos buscavam o melhor ângulo para registrar o fato com seus celulares, máquinas fotográficas e, acredite, um computador. Nos prédios em volta, as sacadas e janelas estavam povoadas, moradores acordados, antes de o despertador alertar, com o barulho estrondoso provocado pelo ocorrido.
A imagem forte, rotineira nos jornais, trivial para os médicos e policiais que prestavam os primeiros socorros, fazia do fato um evento.
– Parece coisa de filme.
Relatava mais um dos transeuntes que voltava do local. Logo, a ambulância saiu em direção ao hospital, sirenes ligadas, transportava um dos envolvidos. Em seguida foram embora também os bombeiros e a outra equipe de para-médicos. Não havia mais o que fazer no local.
Informações imprecisas diziam ora que eram dois, ora três os ocupantes do automóvel que subiu a calçada e adentrou no playground do prédio ao lado do meu. Mas foram três jovens com idades entre 16 e 20 anos, dois deles irmãos, conforme relatou mais tarde o telejornal local que também se valia da imagem do veículo esmagado contra a parede do prédio para narrar o acidente. Em seguida o pai de um deles desabafou:
– Não façam isso com seus pais. Não bebam antes de dirigir. Carro mata!
O noticiário seguiu com as demais reportagens. No local, hoje fechado por algumas folhas de compensado, os populares passam seguindo suas vidas, apontando e narrando a história para os que ainda a desconhecem.
– Maluco! Outra aqui pra galera! – gritava o homem sentado à mesa com alguns colegas, fazendo sinal para o dono do bar.
O sábado prosseguiu. Nos bares da rua próxima à esquina, entre um gole e outro de cerveja, a história se espalhava, cada vez mais impactante e com mais indignação. Os populares julgavam e davam a sentença final, sem direito à apelação, os envolvidos foram culpados e mereceram o fim que tiveram.
Dentro de casa prossegui com minha vida. Em frente ao aparelho de televisão, divagando entre um canal e outro, entre um intervalo e outro, fui observando que milhares de pessoas buscam a fórmula da felicidade e com esse rótulo são oferecidos livros, remédios e milagres.
Uma ditadura similar aos regimes políticos foi sendo instaurada. A população bate continência aos padrões ditados por uma minoria detentora de poder e capital. Os veículos de comunicação e em especial a televisão invadiram as vidas ditando o que se deve ou não usar, vestir, fazer, dizer e consumir para ser feliz e satisfeito com a vida.
Para entrar na “roda” é preciso “pegar leve”.
De canal em canal fui me deparando sempre com as milionárias propagandas de bebidas alcoólicas, com figuras conhecidas, famosos e estrelas bem sucedidas ocupando os intervalos mais caros da televisão e estampando sempre ambientes de agitação, amizade, curtição e felicidade.

“Pensou Novo, Nova Schin.” // “Experimenta”

"Boa, só se for Antártica." // "Antártica, a cerveja da Boa." // "Paixão Nacional/Do Brasil"
"Nem fraca, nem forte. No ponto." 2006

"Se beber chame um táxi. Se estiver acompanhado de três loiras suecas me chame primeiro."
"A cerveja que desce redondo." // "Mais skol, mais amigos, mais curtição."

"Refresca Até Pensamento." 1999 // "A número 1." 1991 // "Brahma é Brahma,Você Sabe!" 1985


Fico a me questionar qual a função das campanhas publicitárias educativas contra a dupla: álcool e direção. Propagandas sempre cinzentas, feias, tristes. Quando em seguida aparece uma melodia animada, pessoas contentes e felizes com a vida porque estão bebendo. Por que não mostrar que a vida também pode ser feliz sem necessariamente ter a presença do álcool?


Nos carros que passam com o som estremecendo os alicerces do prédio, o sucesso do momento: “Vamos embora, pra um bar, beber, cair e levantar” ou seria “Hoje é festa lá no meu apê, tem birita até o amanhecer”. Os ocupantes vestem camisetas de festas cujo um dos principais atrativos é o slogan: “Open bar”.


Enquanto isso outras “vitimas algozes” viram números.

E na Avenida Manoel Dias da Silva em Salvador (da qual saiu o automóvel do início dessa história para invadir o prédio) a prefeitura local através da SET (Superintendência de Engenharia e Tráfego) desenvolve uma “eficiente” campanha com um empolgante banner em um poste. Uma garrafa cortada por uma listra vermelha e a frase “se beber não dirija” ou seria “beba com parcimônia” ou “aprecie com moderação”, não recordo mais, porém a idéia era essa.

Essa foi uma tentativa de reprodução do banner feito pela SET. Além da Manoel Dias, também pode ser encontrado em vários pontos da cidade.

sábado, 13 de dezembro de 2008

21 Metas Para a Televisão do Futuro


1) Melhoria crescente de definição de som e imagem a custos cada vez mais baixos.(A caminho...)
2) Programação ininterrupta durante a madrugada.(Meta cumprida!)
3) Maior, cada vez maior número de emissoras. Multiplicação de canais alternativos, independentes. Fim da necessidade de autorização estatal para transmissões.(Ainda é um sonho) Pequenas estações com acesso à alta tecnologia.(A caminho...)
4) Antenas que funcionem bem.(Aqui em casa "mermo" não)
5) Unificação dos formatos, bitolas e sistemas de codificação. Extinção das reservas de mercado. Um só sistema mundial de vídeo.(Sonho!)
6) TVs de bolso.(Daqui dois anos provavelmente terei um celular assim, mas atualmente ainda é um sonho)
7) TVs descartáveis.(Muito lixo para a posteridade)
8) Telas triangulares, circulares, em diversos formatos. Telas não planas, com relevos. TVs-esculturas, fabricadas em moldes encomendados especialmente pelo consumidor.(Quem sabe um dia?)
9) Acesso cada vez mais fácil e rápido às transmissões de estações de qualquer parte do mundo. Parabólicas menores e mais possantes. TV internacionalizada. Cada domicílio contendo sua pequena babel eletrônica, com dispositivo que acione tradução simultânea para várias línguas à escolha.(oK: Sky is blue!)
10) Outras possibilidades de alteração do som e da imagem. Além dos tradicionais comandos de sintonia, saturação, volume, contraste e brilho; inserção de comandos para interferência criativa sobre o material transmitido. Possibilidades de solarizar, negativar, inverter, multiplicar, distorcer, sobrepor as imagens e equalizar, remixar, fundir os sons. Tratamentos dados a som e imagem em computadores e ilhas de edição passariam a fazer parte do repertório comum de controles dos aparelhos de TV, para livre manipulação do espectador, agora mais ativo na relação com o meio.(É devagar e a divagar que a gente chega lá...)
11) Todos os canais simultaneamente na tela, por subdivisão e também por fusão das imagens e sons.(1ªOração: oK; 2ªOração: Faremos juntos para alcançar essa graça!)
12) Possibilidade de inserção de imagens e sons outros que interfiram e se relacionem com o material transmitido.(Um dia, quem sabe...?)
13) Tecnologia digital de gravação, edição e reprodução ao alcance de qualquer consumidor. Vídeo câmeras caseiras com qualidade profissional. Acesso mais corrente aos meios de produção.(Belê!)
14) Projeções holográficas no espaço, fora dos limites da tela. ("Entre luas e cinemas". Leminsky)
15) Serviço de acesso a transmissões já realizadas em todas as emissoras, que possa veicular programas já passados a pedido exclusivo de cada telespectador. Dessa forma, o usuário poderia confeccionar sua própria programação, nos horários que quisesse, podendo conjugar gravações de diferentes emissoras num único canal sintonizado, específico para a prestação desse serviço, com acesso a informações de qualquer época. TV como banco de dados para pesquisas, acionado pelo telespectador em seu domicílio. Acesso a catálogos com listagem de tudo que constar no arquivo de cada emissora, para consulta e uso do respectivo serviço.(Em 1993, o Arnaldo, em frente à sua Olivetti, talvez não imaginasse que isso seria fichinha para a Internet)
16) Monitores contínuos de grande extensão (como biombos) para caminhantes.(Já não basta a televisão portátil e o telão sem emenda, maior que o Muro das Lamentações, do Domingão do Faustão???)
17) Emissoras volantes, que possam funcionar durante curtos espaços de tempo em qualquer lugar do planeta onde se instalem.(Sendo o YouTube a tv do futuro e o sistema wireless a nova onda do momento, meta cumprida!)
18) Transmissões interplanetárias.(Assim que fizermos contato)
19) Atendimento adequado às diversas necessidades culturais, com variedade de usos da linguagem videográfica. Em decorrência da menor intervenção do Estado, perda do caráter unificador e impositor de padrões lingüísticos, estéticos, comportamentais aos povos.(Hummm... Assim que soubermos lidar com o Poder)
20) Aparelhos inteiramente produzidos com material reciclado. (Pronto! É só reciclar a tv descartável do item 7)
21) Transmissões telepáticas via satélite, sem necessidade de aparelho externo, que reproduzam não apenas som e imagem, mas
experiências físicas completas, incluindo tato, olfato, paladar. (Muito antes do celular StarTac Motorola, Atlântida já tinha bluetooth cerebral)

Revista Globosat, 08/10/93
Arnaldo Antunes
Livro: 40 Escritos
Agradecimento ao "co-comentárista" Glauber Lacerda

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

A Ópera Machadiana

Revivo a ópera antiga, mais antiga que a ópera machadiana da criação do mundo. Ópera que não preciso dividir os créditos, dueto encantado de amor, drama, passado e desespero.

Se o amigo Machado voltasse à vida certamente escreveria um Bentinho feminino, porque a confusão que vai a sua cabeça é digna da alma anímica da mulher.

Mas isso agora é só uma observação. Uma breve observação.

Do Assis aqui quero deixar o superlativismo do José Dias: Um dever amaríssimo. Esse superlativismo que em horas é exagerado em nossas vidas e em outras se faz escasso.

Oh! Flor do Céu! Oh! Flor cândida e pura!

O claustro, a abstinência, a dúvida. Decisões que temos que tomar. O que esperar do outro?

Aprendi a muito que do outro não devemos esperar nada.

A vida é uma entrega, uma doação. Um sacerdócio com direito a todas as leis cristãs. Por mais loucas e difíceis que em certos momentos sejam em nossa razão, em nossa realidade cosmopolita.

Jesus me disse certa vez: - O homem não deve carregar cruz!
E eu acredito nisso, a cruz a gente carrega pra poder fincar no chão subir nela e ver o horizonte.
Ah! O horizonte e seus pássaros. Os pássaros e o horizonte.

Perde-se a vida, ganha-se a batalha!
Ganha-se a vida, perde-se a batalha!

O Machado precisava ter reescrito Dom Casmurro, escrito Senhora Casmurra.

Confuso como uma mulher. Louco de paixão e encantamento com a entrega. Ou então deveria ter internado de vez o Bentinho no Seminário para se tornar um escritor barroco. Com todos os superlativos herdados do agregado e exageros dignos da alma feminina.

Bentinho de Matos. Seria um casamento perfeito. Perfeito em sua loucura exagerada.

Podes vir a afirmar com tudo aqui escrito que tomo as dores de Capitolina, mas desde já: Sou ré confessa.

Capitu é o homem do Assis, sem tantas dúvidas, cheia de certezas, de iniciativas. Pode até ter cometido o tal adultério, mas se o cometeu foi porque tinha alma masculina. Calculista, persuasiva.

E não pense que estou a tecer uma carta feminista ou machista, apenas escrevo constatações.

Capitu a meretriz. Ah! Não creio.

Ainda tento abandonar o Machado, mas ele está aqui sussurrando em meu ouvido, que ele escreveu e eu não tenho poder sobre isso.

Rimos juntos sobre minhas constatações. Rio dele, esse velho louco e são.

Espero que mais tarde ele me abandone para poder mudar a pauta dessa conversa.

Velho louco! Deveria ter escrito livros de bruxaria.


CAPITU (Luiz Tati)

Cantando: Zélia Duncan


"Eu me transformo em outras". 2004

A música que mais gosto é "Capitu", mas o cd inteiro é muito bom. Mudou meu modo de ver a Zélia, na verdade, passei a ouvir Zélia Duncan.