domingo, 28 de outubro de 2007

O SIM

"Tudo no mundo começou com um sim.
Uma molécula disse sim a outra molécula e nasceu a vida."

Clarice Lispector

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Poetando


Disse-me certo poeta
Numa dessas reuniões sem objetivos
Que a arte era algo doloroso
Que a arte era um oficio doloroso

Digo hoje a esse poeta
Depois de passada minha exaltação
Que a arte não é dolorosa
A arte é a forma mais pura de libertação

A única forma que não pode me corromper
A única liberdade que posso viver
A única forma inconcreta de mostrar o meu ser
A única forma de me desfazer dos pecados do mundo.

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

AURORA BOREAL INTERGALÁCTICA

Ouvindo a música dos tempos
Penso no que sou agora
Mas de pensar morreu o burro
Quero viver mais uma aurora

Aurora boreal intergaláctica
Dos filhos de outras terras sublimes
Busquem-me quando chegar a minha hora
Mas minha hora pode ser tarde pra mim

Ouvindo o relógio eu me deparo
Com o que fui no fim
Olhando as horas infinitas no lapso de tempo
Que trago em mim

Sou a filha da luz
Que vive na sombra que auto produz
Ontem fui mais
Hoje sou mais
Amanha serei mais.

terça-feira, 9 de outubro de 2007

A persistência da memória




Oração ao Tempo


És um senhor tão bonito
Quanto a cara do meu filho
Tempo tempo tempo tempo
Vou te fazer um pedido
Tempo tempo tempo tempo

Compositor de destinos
Tambor de todos os ritmos
Tempo tempo tempo tempo
Entro num acordo contigo
Tempo tempo tempo tempo

Por seres tão inventivo
E pareceres contínuo
Tempo tempo tempo tempo
És um dos deuses mais lindos
Tempo tempo tempo tempo

Que sejas ainda mais vivo
No som do meu estribilho
Tempo tempo tempo tempo
Ouve bem o que eu te digo
Tempo tempo tempo tempo

Peço-te o prazer legítimo
É o movimento preciso
Tempo tempo tempo tempo
Quando o tempo for propício
Tempo tempo tempo tempo

De modo que o meu espírito
Ganhe um brilho definido
Tempo tempo tempo tempo
E eu espalhe benefícios
Tempo tempo tempo tempo

O que usaremos pra isso
Fica guardado em sigilo
Tempo tempo tempo tempo
Apenas contigo e comigo
Tempo tempo tempo tempo


E quando eu tiver saído
Para fora do teu círculo
Tempo tempo tempo tempo
Não serei nem terás sido
Tempo tempo tempo tempo

Ainda assim acredito
Ser possível reunirmo-nos
Tempo tempo tempo tempo
Num outro nível de vínculo
Tempo tempo tempo tempo

Portanto peço-te aquilo
E te ofereço elogios
Tempo tempo tempo tempo
Nas rimas do meu estilo.


Caetano Veloso

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Salvador Dali


Sonho causado pelo vôo de uma abelha à volta de um romã, um segundo antes de despertar.

sábado, 6 de outubro de 2007

Devaneio...


Quando eu era criança, eu sonhava que Dom Quixote e Sancho Pança de suas andanças voltavam e paravam em meu jardim.
Em baixo do cogumelo o Pequeno Príncipe conversava com a Raposa: Cativa!!! Cativa!!! Cultivas o que cativas!
Logo adiante Simbá marujo e guerreiro flutuante se entretia com as mil e uma noites.
Ao lado dele voando verdejante estava Pan e sua flauta encantada, tentando permanecer criança enfeitiçando anjos que caiam em lembrança de um amor que não podiam.
Mais adiante o Lobo Mal e a Chapeuzinho trocavam figurinhas da revista em quadrinhos.
Entre Silfos e Elfos surgia o Abaporu com aqueles pés, enormes e cheios de ar sobre as cabeças dos Silfos e dos Elfos a cantar... O Abaporu a macuinizar dentro do meu jardim que não privava ninguém de entrar.
Então como não podia faltar, Édipo e a Esfinge domada não demoraram a chegar, decifrada e sem enigmas era ela agora de seu dono que nunca tivera o complexo Freudiano.
Ora, ora, bem vindo, até o coelho atrasado, branco e bem vestido chegou, não vê está logo ali...
Atrasado, atrasado...
A duquesa não perdoará o meu atraso.
Atrás do coelho, perspicaz e sorrateiro se diverte o cágado astuto, saindo da viola do voador taciturno que não queria trazê-lo ao jardim.
Gargalha e canta na festa no céu, no seu céu no meio daqui.
Até a mônada que cansada de brilhar escurecida estava em algum outro lugar. No jardim voltou a penetrar.
Logo o negrinho encontrou o burrico e os dois seguiram como se nunca tivessem se perdido.
Vejam só com o cachimbo e a toca vermelha é o saci o peralta perneta pregando peça no garoto fujão.
Perdidos os dois em suas artimanhas não sabíamos onde terminava o Saci e começava a criança.
Fogo, Fogo!!! Gritou o beija flor e todos solidários foram lá ajudando com o seu valor, e apagou o fogo anunciado pela pequena e frágil ave.
Perto do tabuleiro de xadrez repousados pensativos no outeiro estavam Pessoa e Espanca, perdidos nos tempos do relógio do coelho. Nada falavam, só entreolhavam, ora pra si ora pra o tabuleiro que ainda não tinha se quer um peão no meio.
Schopeaounhauer e Alencar discutiam observando a novela na tela de plasma pós-moderna...